Foi ao som de “Sur le pont d'Avignon” e “La vie en Rose” que conversámos com a Assessora de Imprensa do Museu Colecção Berardo, bem junto às suas amorosas caixinhas de música.
Percorremos as suas colecções de cartas, postais e memórias. Viajámos entre a sua África, os bons tempos em Paris e a adaptação a Portugal. E o que descobrimos é que é impossível não nos apaixonarmos pelas histórias de Namalimba Coelho, a mãe romântica que em criança sonhava ser Presidente de República. Ora tentem...
1 - O que representa para ti o quarto? É a divisão onde preferes estar? Não, acho que cada divisão tem a sua importância. Vivo a minha casa toda.
2 - E qual seriam as palavras perfeitas para o descrever? Talvez...a minha caixinha de música.
3 - Tens muitos postais emoldurados e pendurados nas paredes. Fazem todos parte das tuas memórias? Sim, tenho postais espalhados pela casa inteira. Acho importante porque se trata de uma forma de contacto que se perdeu. Tenho cartas das minhas melhores amigas, de pessoas que conheci em Erasmus ou no Mestrado ou quando estive a trabalhar nas Nações Unidas e, apesar de ter sido sempre em circunstâncias diferentes, guardei contacto com todas, através de cartas e postais. Há alguns meses reformulei a casa e fui procurar todas essas recordações. E revolvi criar uma montra, a que chamo “La maison de mes souvenirs”, com objectos que estavam guardados numa caixa, mas que eu achei que deviam estar visíveis para mim. Cartas, diários, postais, declarações de amor, bilhetes de concertos, enfim...registos importantes da minha vida.
4 - Então ainda escreves muitas cartas? Sim. E envio-as! Recentemente escrevi e enviei um postal aos meus filhos, enquanto estive em Istambul. Sei que eles não entendem o que lá está, mas a minha ideia é que, um dia quando eles saibam ler, percebam que naquela cidade estiveram sempre comigo.
5 - Porquê esse fascínio pelos registos? Julgo que tem a ver com o meu percurso inicial. O facto de ter nascido em África (Angola), da minha primeira infância ter sido no contexto da guerra civil, onde não tinha a mesma liberdade de andar na rua que as outras crianças. Além disso, os meus amigos eram os filhos dos amigos dos meus pais, que estavam lá a trabalhar em petrolíferas ou na ONU. Portanto, era tudo muito efémero.
6 - E com que idade vieste para Portugal? Com 9 anos e ingressei no Liceu Francês, em Lisboa.
7 - Voltando à casa. Nota-se uma clara inspiração em África... Sim, claro. Como a minha pequena “maison des mês souvenirs”, também o resto da casa está repleto de memórias. Da minha vida e, claro, também dos meus filhos. Tenho muitas fotografias dele.
8 - Portanto coleccionas postais, cartas, fotografias...e roupa?Com a roupa é diferente. Vou sempre ao baú da avó. Aliás, o meu programa preferido de sábado é ir à Feira da Ladra.
9 - E vais só às bancas de roupa? Não. Há duas coisas que procuro sempre: caixinhas de música e cartas de amor. Adoro! Fico lá sentada durante horas a ler até escolher as que mais gosto.
10 - E porquê cartas de amor, és uma romântica? Ah sim, sou! Sou muito mais romântica para a vida e para os outros do que para mim. Gosto do registo antigo e respeito imenso toda aquela áurea de entrega e exclusividade que havia antigamente.
11 - O que estás a ler neste momento? Um livro sobre Istambul, influenciada pela viagem que fiz. É uma história de amor, inevitavelmente...chama-se “O Museu da Inocência”, de Orhan Pamuk.
12 - E por falar em Museu, como passas da área dos Direitos Humanos para a assessoria de imprensa do Museu Colecção Berardo?Foi a minha vinda para Portugal, depois de terminar o Mestrado em Paris. Quando fiz Erasmus, também em Paris, comecei a conviver com as comunidades árabes, fui aprender Língua e Cultura Árabe e criei um fascínio pelos Direitos Humanos. E pensei: “porque não fazer disto a minha vida?”. Mas em Portugal era praticamente impossível e quando regressei decidi fazer algo completamente diferente. Foi por acaso que uma amiga me perguntou se eu não queria candidatar-me a um cargo na Bienal de Design. E tudo começou aí, em 2003. Passei pela assessoria de media internacional e nacional da Associação Experimenta e correu muito bem. Foram surgindo entretanto outros projectos pontuais na área da Cultura, até que em 2007 assumi a assessoria de imprensa da Fundação de Arte Moderna e Contemporânea – Museu Colecção Berardo, um pouco antes da sua abertura ao público. Foi um passo maior que a perna, um desafio enorme. Mas estou a adorar a experiência!
© photography Sara Gomes
© text Carolina Almeida
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