12.15.2010

room service - cláudia guerreiro.










'Caos'. É esta a palavra que a baixista dos Linda Martini escolhe para descrever o seu quarto, que partilha com o namorado.

Sem pudor, assume que não tem jeito para a decoração e nem se preocupa com isso, desde que o conforto esteja lá. Sem floreados nem rodeios, confessa que o quarto não é mais do que o seu espaço para dormir, onde esconde a caótica harmonia da sua vida dos olhares indiscretos, e o qual compara a uma bateria. Porque apesar de ter estudado Escultura e de as Belas Artes serem constantes ao longo do seu percurso, a música é a sua paixão mais antiga. As suas armas são, não os pratos ou tambores, mas as cordas: é baixista na banda Linda Martini e guitarrista em ASNEIRA. Nunca saiu em tournée, mas tem pena, porque, além de tudo, adora viajar (de saco-cama atrás!). Fomos conhecer o pequeno mundo caótico de Cláudia e comprovámos que luz e aleatoriedade casam bem. Muito bem.

Fala-me um pouco de ti. O que estudaste? Formei-me em escultura, mas sempre com um percurso muito marcado pelo desenho. Tenho trabalhado em construção de marionetas e cenários para cinema de animação, com o José Miguel Ribeiro, entre outros. Às vezes, faço trabalhos para cenografia, outros de ilustração, e actualmente estou a fazer um mestrado de ilustração científica. Não tenho profissão certa. O que vem à rede, é peixe!

Desde quando és baixista do grupo Linda Martini? Também tocas guitarra noutra banda, não é?Toco com Linda Martini desde a altura em que ainda não tínhamos nome. Comecei a tocar com eles no início de 2003, com a desculpa de tocar harmónica. No ensaio seguinte já estava com o baixo. Além de Linda Martini, toco guitarra em ASNEIRA.

Como surgiu a ligação à música? Vem desde pequenina. O meu pai tocava guitarra e as festas de família eram sempre animadas por ele a tocar e eu a cantar ou tocar flauta. Depois comecei a interessar-me pela guitarra e tive a sorte de passar por um liceu onde ninguém queria ser beto, por isso éramos mais hippies (controlados!) do que outra coisa. Todos os dias levava a guitarra para a escola e éramos uns tantos a tocar. Um dia, depois de muitas tentativas falhadas de banda, juntei-me com uns amigos para um ensaio e eles levaram um baterista. Foi mais uma banda falhada, mas conheci o Hélio e desde aí que tenho bandas com ele. De facto, a minha formação é Escultura e são para mim duas partes distintas da minha vida, mas, estranhamente, parece que obtive mais sucesso naquela para a qual não me esforcei...

Pela tua formação e relação com as Belas Artes, posso deduzir que também gostas da área de decoração, ou não? ...não, não tenho o menor jeito, como aliás podes ver pelo meu quarto...

Isso por vezes não é assim tão linear. Diz-me, o que é que o teu quarto representa para ti? Neste momento, é o sítio onde durmo. Quando vives com os teus pais, ou partilhas casa, o quarto é a tua casa. É o teu espaço máximo de conforto, o ninho com todo o lixo que isso implica! Quando passas a viver sozinha ou em casal, o quarto é aquela divisão que ninguém vê e, nesse sentido, é a divisão mais desarrumada!

E se tivesses de descrevê-lo numa palavra, qual seria? Caos.

E se te pedisse para o comparares a um instrumento musical, qual te viria primeiro à cabeça?Uma bateria...coisas em cima umas das outras, demasiada informação para um instrumento, e difícil de arrumar.

A decisão de não ter uma cama e deixar o colchão no chão é propositada? Não! O estrado está cá, mas range...eu e o meu namorado queremos comprar um soummier, mas estamos a tentar perceber se vamos ou não mudar de casa. Se mudarmos, é escusado subir agora dois andares com isso às costas!

Achas que é difícil decorar o quarto com o namorado? Partilham o mesmo gosto? Eu não me preocupo com a decoração do quarto. Tento fazer com que seja confortável, e isso depende muito da luz. Temos mais ou menos os mesmo gostos, mas quando precisamos de algum móvel, acabamos por comprar algo barato. Como temos móveis de todos os feitios, podemos ser um pouco aleatórios e não precisamos de combinar as coisas umas com as outras.

Reparei que tens serigrafias na parede...são da tua autoria? O que significam? As serigrafias são da minha tia (Noémia Cruz), e tenho um desenho meu. São tudo trabalhos que têm a ver com intimidade, questões do corpo. Tanto o meu trabalho como o da minha tia se inspiram muito nesses temas, e nada melhor que um quarto para acolher essas intimidades.

Tens toda a razão! E o que gostas mais no teu quarto? Acho que o facto de ter duas janelas por onde entra a luz toda de Lisboa e o cesto da roupa suja!

Depois de espreitarmos o armário, chamou-nos atenção os vários sacos-cama....viajas muito?Em tournée? Quem me dera ir em tournée! Passo a vida a reclamar que nunca fui... tenho uma colecção de três sacos cama, mas só um é meu. Os outros são do Rui (namorado) que, sim, vai em tournée. Aliás, ainda hoje foi numa! Adoro viajar, mas ultimamente não tenho conseguido. Para fazer as coisas mais viáveis, costumo aproveitar a casa de amigos ou familiares, e lá vou eu de saco-cama e malas feitas!

Se pudesses escolher visitar a casa de alguém famoso, quem escolherias Não te consigo dizer nenhum nome. Interessam-me as pessoas e as casas, mas não casas de pessoas... além de que visitar casas giras é como ir à feira do livro sem dinheiro!


© photography Sara Gomes
© text Carolina Almeida
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